terça-feira, 8 de outubro de 2013

O Psicólogo - adorei!

- Você sabe quem você é?
- Não, eu não sei. 
- Desde quando? 
- Desde que me perguntei quem eu sou. 
- Você tem uma crise existencial. 
- Não saber quem eu sou me faz ser quem eu não sou? 
- Certamente sim. 
- E como eu posso saber quem eu me tornei não sendo eu? 
- Um estranho pra si mesmo, você se criou. E é você quem tem que se descobrir. 
- E se eu me descobrir e acabar percebendo que eu não sou quem eu queria ser? 
- E quem você quer ser? 
- Um estranho para mim mesmo. 
- Você já é. 
- Então eu não tenho uma crise existencial se eu já sou quem gostaria de ser.
- Você é feliz sendo quem você é? 
- Seria se eu não fosse tão complicado. A minha felicidade vem em pequenas doses, não consigo me embriagar dela por muito tempo. 
- E como você se sente agora? 
- Nem triste, nem feliz. Apenas um vazio que me permite tê-lo em si todos os sentimentos do mundo, mas nenhum consegue preenchê-lo por completo.
- Quando foi a ultima vez que você sentiu que era feliz? 
- Minutos antes de perceber que eu sou a felicidade das pessoas, mas elas não são a minha. 
- Não se sente feliz vendo alguém feliz por você? 
- Sinto pena. Pois sem perceber eu a estou enganando. Mas continuo me mostrando feliz só para não magoá-las. Parece que eu retenho a tristeza das pessoas para mim e quando elas vão embora, sou eu quem fica semeando o que roubei delas.
- Então você sente uma certa compaixão pelas pessoas, você não está tão vazio assim. 
- Eu não estou vazio, são os meus sentimentos que estão pequenos. 
- Do que você tem medo? 
- De quase tudo, tenho até medo de sentir medo. 
- Qual o maior dos teus medos?
- A morte. 
- Por que? 
- Porque a ideia de ser imortal me apavora, e a ideia de morrer eternamente me desespera. 
- Você acredita em vida após a morte? 
- Acredito em morte após a vida. 
- Se você morresse hoje, do que se orgulharia? 
- De nunca ter estado vivo. 
- Qual o seu sonho? 
- Domar meus fantasmas. Aceitar a vida como ela é. Entender o sentido da morte, e porque ela é tão cruel. Saber quem eu sou, do que gosto e de quem gosto. E por que amar é tão necessário se sempre é tão sofrido. Por que estamos vivos? Qual a função da nossa existência se somos tão individuais. Por que eu gosto tanto das pessoas e ao mesmo tempo me prejudico tanto, gosto de sofrer em benefícios alheios? Por que a tristeza está sempre pronta para me acolher? Por que o céu é tão infinito e nós somos tão limitados? Ele não foi feito para nós? Mas e você, sabe quem você é? 
- Não, eu também não sei. 

(De: Anderson Beowulf)

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